sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A sombra de uma escolha VII

Ato 03

Cena 01: *(Na beira da praia; Uma marina; No amanhecer; Regina e Prisco; Regina está sentada, olhando o horizonte, quando Prisco aparece; Regina está segurando um guarda chuvas; Prisco senta-se ao lado de Regina; Ela o olha; Os dois sorriem; Prisco a beija; Ambos olham o horizonte)*

(Prisco) – Serei eu a profanar este silêncio?
(Regina) – Ele é por demais profano, não pode piorar.
(Prisco) – Esse lugar absorve tudo o que penso...
(Regina) - *Sorrindo*- E o que pensas? Podes falar?
(Prisco) – Que cada som que faço diz menos o que sinto.
(Prisco) – Se disser o contrário, de certo minto...
(Regina) – Aqui é onde lavo minh’alma, é o remédio do juízo.
(Regina) – É onde a própria paz se acalma, o caminho do paraíso!
(Prisco) – Mas esses são todos os que me levam a você.
(Regina) – *Ri* - Mas esse não, é diferente, você vai ver.
*(Irrompe a aurora)*
(Regina) – O sol que nasce, lança seus raios pelo mundo!
(Regina) – Eles vêm irrompendo este azul profundo!
(Regina) – Acima e abaixo, cada qual vai sozinho.
(Regina) – Se encontrando com as águas... encontrando um caminho!
(Regina) – Quando tocam seus pares, se juntam, se estreitam.
(Regina) – Se despem e se deitam, para agente passar!
(Prisco) – Até posso tocar! Numa nuvem distante!
(Regina) – Nesse momento, tudo é perto...
(Regina) – Qualquer errado é certo...
(Prisco) – Pode o mar nos conduzir?
(Regina) – Olha a chuva a cair! Quem disse que o mar não toca o céu?
(Regina) – Ele toca, eles se deitam. Eles se amam e se aceitam!
(Regina) – Quando retorna, quer voltar. Por isso o caminho nas águas... que liga o céu ao mar.
(Regina) – O sol é como um vento. Só que quente e iluminado.
(Regina) –O mar ele leva, docemente, ao encontro de seu amado.
(Regina) – E se misturam lá em cima. E voltam misturados.
(Regina) – É isso que ilumina! Chuva que tece o inalcansável!
(Prisco) – Como assim? O que ela tece?
(Regina) – Ela é grata, e muito ,ao sol, então ajuda ele a tecer;
(Regina) – Como o amplificador de um farol, fazendo um arco íris nascer!
(Prisco) – Tem razão, está ali! Logo ali, eu posso ver!
(Prisco) – Mas meu caminho está aqui, bem ao meu lado a me dizer...
(Prisco) – Que chegamos ao paraíso! A vida eterna e imortal!
(Regina) -*Ri* Não como a que há na terra, mais inda assim muito real!
(Prisco) – É engraçado te olhar, é um exercício pra alma.
(Prisco) – Me dá vontade de tocar, olhar de novo se é real.
(Prisco) – É um furor que mata e ao mesmo tempo torna imortal...
(Regina) – Quantas mortes eu já tive? A todo o tempo afogada.
(Regina) – Mas você me salva, como já disse, é o poeta de minha alma!
(Prisco) – Por eu escrever, então, renasces?
(Prisco) – É uma alegria poder saber!
(Prisco) – Assim posso me alegrar a cada novo nascer!
(Regina) – Nosso caminho está trilhado, dá no sopé de uma árvore.
(Prisco) – Estante grande, um piano ao lado...
(Regina) – Quando me adivinhas é irritante...
(Prisco) -  * Sorri* - Pois se irritar-te é ver-te assim, vou muito me esforçar!
(Prisco) – Dedicarei-me então, enfim, apenas a te irritar!
(Regina) – Você é bobo e eu também. Nunca, assim, me falou ninguém.
(Prisco) – Pois esqueces-te do meu nome? Prisco ninguém, já lhe falei.
(Regina) - *Ri* Claro, claro! Ele não me some. Mas tu pra mim já é alguém.
(Prisco) – Que alguém eu sou?
(Regina) – Especial.
(Prisco) – Mas por que?
(Regina) – Podes saber!
*Eriçam-se, se fitam e se aproximam a cada frase, como que se confrontassem românticamente*
(Prisco) – Que bem te fiz?
(Regina) – Um sem igual!
(Prisco) – Que te concedi?
(Regina) – Meu renascer!
(Prisco) – Pois então saiba: Nada lhe dei.
(Prisco) – Quando nos tocamos, só fez passar...
(Prisco) – Foi que não controlei.
(Prisco) – Mas nem mesmo pensei em controlar...
(Prisco) – Foi como um toque divino no meu peito.
(Prisco) – Fiquei ao mesmo tempo tão forte e tão sem jeito...
(Prisco) – O que tinha, eu , era pouco.
(Regina) – O que tinha eu também.
(Prisco) – Mas então juntamos e... parece louco...
(Regina) – Tornou-se infinito para ambos meu bem!
*Beijam-se*
(Prisco) – Tenho algo a lhe entregar. Não podes tocar como uma rosa.
(Prisco) – Não é concreto a um olhar, como seria qualquer prosa...
(Prisco) – É um sussurrar inacabado, me ajuda a terminar!?
(Regina) – Estou aqui ao seu lado, só o que posso é aceitar.
(Prisco) –
Um cheiro de pêra exala e me toma,
Me enfeitiça e me envenena,
Não posso resistir a esse aroma,
É dela... tenho certeza plena!
Um toque sutil... cálido e rosado;
Um dedo áspero e febril... me deixa desnorteado;
Um sussurrar que a resume,
Um leve som que me consome.
Harmonia etérea que nos une.
E eu peço, imploro que me tome!
Meus olhos dizem que consente,
Me permitem de te olhar
As vezes... imagino o teu olhar ausente...
Oh dor augusta esse pensar...
Que gosto tens que me completa?
Só assim posso dizer:

Matheus Santos Rodrigues Silva 








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