quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A sombra de uma escolha VI

Cena 03

*(No quarto de Regina; O casal deitado e conversando)*

(Prisco) – Deus do céu, o que é isso? É real?
(Regina) – As vezes temo ser só uma ilusão
(Prisco) – O início diverge sempre do final...
(Regina) – Não se há amor...se há paixão...
(Prisco) – Fins violentos tem essas alegrias...
(Regina) – O que quer dizer? Vai me deixar?
(Prisco) – Não! Temo só te machucar...
(Regina) – Não fale mais assim, só dá poesia!
(Prisco) – A poesia é um grito no escuto...
(Regina) – O que tem haver, no escuro alguém gritar?
(Prisco) – O mesmo que pra um surdo um olhar.
(Prisco) – O mesmo que uma estrela para um mudo!
(Regina) – É estranho o que me diz, difícil de entender.
(Prisco) – Não te digo nada, nem poesia é...
(Regina) – Afinal, o que quer me dizer?
(Prisco) – Uma canção... uma rima qualquer...
(Regina) – O que te fez ficar tão pesado?
(Prisco) – Não sei... talvez te amar tanto...
(Regina) – Como pode o amor trazer pranto?
(Prisco) – Sendo tão forte a alegria de estar ao seu lado.
(Prisco) – Estar com você é o meu momento de alegria.
(Prisco) – Na vida que levo, tudo é sem gosto.
(Prisco) – Tudo que eu vivo, começa e não segue...
(Prisco) – Já estar com você é um extremo gozo.
(Regina) – Como pode dizer isto? És poeta!
(Prisco) – Poeta também sofre, tem problemas...
(Regina) – Mas resiste as mais severas e duras penas...!
(Prisco) – Mas ainda gostaria de uma meta...
(Regina) – Afinal, o que te aflige? O que te inquieta?
(Regina) – Se pra ti, não basta ser poeta;
(Regina) – Precisa me falar, nada me disse...
(Prisco) – Você pra mim é um bolsão de alegria.
(Prisco) – Com você não posso estar só posso ser.
(Prisco) – Com você a minha vida é uma poesia.
(Prisco) – O teu semblante já me alegra só de ver!
(Prisco) – Meu coração era um calabouço já vazio.
(Prisco) – E agora sou, eu próprio, o prisioneiro.
(Prisco) – Esse sentimento doce e pueril...
(Prisco) – Me tomou e me impediu de ficar alheio...
(Prisco) – Tenho sonhos e planos aos quais quero cumprir;
(Prisco) – Mas nenhum se realiza, nenhum se ajeita;
(Prisco) – Não sei se vale a pena me idulir...
(Prisco) – Talvez pra esta arte, a minha mão não tenha sido feita...
(Prisco) – Aqui, contigo, em repouso... aqui me aquieto.
(Prisco) – Eu sou feliz no calabouço, inda que sombrio e incerto.
(Prisco) – Mas então lembro pra onde vou, onde pertenço;
(Prisco) – E me entristeço, me inquieto e fico tenso!
(Prisco) – Antes de ti, não me importava o meu caminho
(Prisco) – Depois de ti, já não consigo estar sozinho...
(Prisco) – Você ,de alguma forma, me deu fraqueza e esperança;
(Prisco) – Quem diria, nunca pensara... me transformou numa criança!
(Prisco) – Eu te amo mais que ao mundo e a poesia!
(Prisco) – Ponho os dois ao seu serviço, assim me alegro.
(Prisco) – Nunca pensei que alguma noite ou algum dia;
(Prisco) – Eu teria a sensação de estar tão certo!
(Regina) - *(Olhar doce, cálido, derretido. Voz suave)* - É tudo lindo o que me diz... nem sei falar...
(Regina) – É muito mais do que sonhei, nem posso crer...
(Regina) – Nunca pensei assim me apaixonar...
(Regina) – Nunca pensei em tão alto assim viver...
(Regina) – Mas de que certeza tu me falas? Quer dizer?
(Regina) – Gostaria de saber...
(Prisco) – Os homens nascem com uma certeza: Vão morrer.
(Prisco) – Todo o resto é enganoso, pode errar;
(Prisco) – Sentido, razão... nada pode conceder.
(Prisco) – Essa certeza que eu tenho de te amar!
*(Regina sorri calidamente e beija Prisco)*

Fim do segundo ato.

Matheus Santos Rodrigues Silva

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