segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Sob a senda escura que se estende e esmaga, sinto a luz da aurora romper a madrugada e libertar em fim a consciência, com ou sem ciência da vossa ausência. Passam-se os dias em veloz galope, sob a avidez de um infeliz espaço, a subjugá-los num só golpe pelo pecado de um feliz abraço. Vencem-se as horas e as distâncias, como se nada pudesse parar, desconsideram-se as importâncias, pois aos homens não cabe amar... É tão pueril este sentimento... tão bobo e tão simples. Esvaeceria-se num momento em anos mais sublimes... Pobre é a poesia. Infeliz é o poeta. Toda uma dinastia. Completa a mente deserta... Matheus Santos Rodrigues Silva

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Retorno

Da gota de orvalho que aprisiona a aurora evoco infindas lamúrias do passado a ajudar-me a findar agora toda lembrança de todo vil desagrado. Venho em linhas a plagiar Willian Henley e em argumentos o segundo de Rochester, No entanto peço que não pensem, que de forma alguma por estes homens me conhecem. Evoco então o pior de mim em minha defesa e o melhor que tenho em minha acusação. Pois neste mundo não devo nenhuma clareza a não ser àqueles a quem seguro a mão. Enfim, peço aos fantasmas do passado que findem sua infeliz existência pois da dor nada vale ser guardado além da simples experiência. Matheus Santos Rodrigues Silva

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mentiras

"Uma mentira contada várias vezes torna-se verdade". Essa frase foi proferida na década de trinta pelo então ministro da propaganda do regime nazista, Josef Goebbels. De lá pra cá podemos observar diversos exemplos da veracidade de sua afirmação. Um dos melhores exemplos ocorreu no fim da segunda guerra mundial, quando sob julgamento no tribunal de Nuremberg, o ex-Marechal do Reich, Hermann Goering, proferiu as seguintes palavras a um juiz americano: "Assim como fizemos em meu país com os judeus, vocês fizeram com os japoneses. Criaram campos de concentração para os americanos descendentes de japoneses tal qual fizemos com os alemãs de origem judia. E não foi por motivo de guerra! Não foi, pois vocês não fizeram o mesmo com os descendentes de alemãs e italianos, contra os quais também estavam em guerra! A vida de um japonês para vocês é o mesmo que a de um judeu para nós e o único motivo para eu estar sendo julgado aqui e não você, é que perdemos a guerra!" E assim fiou-se a história da nação que lutou pela liberdade. A mesma nação que exterminou sumariamente mais de duzentos mil japoneses no teste das bombas atômicas e que não dava aos seus cidadãos de cor negra o direito de ocupar cargos políticos ou de oficiais nas forças armadas. A mesma que proibia seus cidadãos negros de portarem armas, quando dava esse direito aos brancos. Mas então, porque falar sobre isso tudo? Trouxe algumas passagens da história passada para falar da nossa história presente. Eu, felizmente, não tenho o costume de assistir TV, mas acabei passando pela sala enquanto minha mãe a assistia durante a tarde e me deparei com mais propagandas do governo do estado. Falava sobre a atual greve dos professores da rede estadual. Dizia basicamente que eles não querem voltar ao trabalho tendo recebido 22,22% de aumento e tendo 73% de ganho real no salário desde o início da gestão Wagner. Como bem condicionado fui por meu pai, não confiei no que vi e fui averiguar se aquilo procedia. Encontrei algumas outras propagandas do governo do estado no Youtube e me deparei com uma que falava do eficiente combate a seca que o governo estava fazendo. Foi engraçado ver tal alarde com isso, sabendo que esse ano o interior da Bahia sofreu uma seca terrível sem que o governador movesse uma palha para ajudar. Numa outra propaganda o insuportavelmente risonho narrador falava da construção da arena fonte nova e da copa do mundo que vinha pra Salvador e então falava que tal feito traria grande crescimento e desenvolvimento para todo o estado. Parei por um instante e me perguntei: Como é que uma copa do mundo em Salvador vai trazer algum crescimento para Vitória da Conquista? Barreiras? Cipó? Peço perdão pela ignorância, senhor governador, mas o senhor poderia me explicar essa viagem? Bem, voltando para a greve, descobri que os professores estão exigindo o cumprimento de um acordo feito entre o sindicato e o governo do estado, que determinava um reajuste para a classe que acompanhasse o reajuste do piso nacional dos professores, que foi de 22,22%. Traduzindo: Por lei, o reajuste do piso nacional deve se repetir em todos os estados, mas os professores tiveram de fazer um acordo por esse reajuste para que ele se cumprisse e o governo do estado ainda falta conceder 4,22%, pois concedeu 6,5% e depois 11,5%. Olhando por um outro lado, o governo do estado ofereceu um reajuste de 3% até outubro desse ano e de 4% até abril do próximo ano, dando até 25% de reajuste no fim, no formato de progressão de carreira, mediante realização de um curso a distância. Os professores analisaram a proposta e a recusaram. Eu consigo entender o porquê, afinal a lei atual determina o reajuste e se eles aceitassem a proposta estariam revogando essa lei. Eles não estão pedindo nada demais. Considerando que o governo Wagner gasta uma violentíssima quantia de seu orçamento em propaganda e que atualmente assinou um contrato milionário sem licitação com a empresa de um famoso professor baiano, é até um crime do governo dizer que não pode arcar com os gastos dos novos salários. Parei pra pensar comigo mesmo e cheguei a me voltar para a opinião de que diante da precariedade do nosso sistema educacional e diante do prejuízo causado pelo governador aos alunos, os professores poderiam aceitar a proposta que os concederia o reajuste no fim das contas, mas aí me lembrei da frase de uma americana no filme Sicko de Michael Moore, explicando o porquê de, na França, as coisas serem melhores para o povo. Ela disse o seguinte: "Aqui o governo tem medo do povo. Eles tem medo de protestos, greves, movimentações urbanas. Aqui o povo não tem medo e sai as ruas para defender os seus direitos". Quando penso num país no qual queria morar me vem a França à cabeça. Sendo assim, acredito que devíamos imitar o comportamento francês e lutar pelos nossos direitos. Imitamos tantas coisas ruins do estrangeiro, porque não imitar as coisas boas? Sendo assim, que os professores continuem em greve até ser cumprido o que determina a lei e o acordo firmado em novembro passado pelo governador. Que as coisas sejam feitas direito ou que não sejam, mas não mais com esse jeitinho brasileiro que tanto nos impede de amadurecer como nação. Que os professores não sejam caridosos, pois aceitar menos do que aquilo que se tem direito é caridade. E caridade é um valor danoso a uma sociedade que intenciona ser mais igual. Nós ainda não nos identificamos como nação. Ainda não nos respeitamos como cidadãos, pois até o presente momento expressamos as duas grandes qualidades de um povo dominado: Temos medo e não temos educação. E assim segue uma grande mentira na qual nosso povo dominado ainda acredita, mas que infelizmente não segue o enunciado de Goebbels: "Tenham fé e aguardem, o Brasil irá melhorar!" Matheus Santos Rodrigues Silva

Não posso parar

Há algum tempo atrás eu parei de escrever. Algumas pessoas me perguntaram o porquê e eu fiquei procurando na minha mente uma boa desculpa. Seria a faculdade? O excesso de atividades? Estava sem tempo? Eu usei essas desculpas pra justificar o adormecimento da minha pena, mas no fim não era nada disso. Eu tinha tempo livre o bastante pra escrever. As coisas não estavam tão difíceis assim. Eu até fui bastante displicente nesses últimos meses e ainda assim não enfrentei grandes dificuldades. O problema não era tempo ou cansaço. Então o que era? Continuei meditando sobre isso e pensei: Será que estou ficando velho? Estou crescendo e percebendo que tudo aquilo não passava de uma fase? Que estava encarando o mundo como ele é? Por um momento eu cheguei a acreditar que fosse isso, mas foi por um momento muito curto. Pensei, pensei... é complicado analisar a si, não é? Não pra mim. Nunca foi. Então o que? Obtive minhas respostas entrando em contato com a arte que parecia se esvair de mim. Ela não se foi. Ela continua aqui. Ela é uma parte indissociável do meu ser. É minha assinatura, ou melhor, minha marca a ferro quente, minha tatuagem. É essa "marca" que me fez gostar de mim mesmo ao passo que também odiar a mim mesmo naqueles tempos inglórios da nossa formação mental. Sabe, o mundo pode ser bastante chato e sem graça. Basta você perder a clareza dos seus sentidos. Não falo aqui da visão, audição, olfato, tato e palar. Falo daqueles sentidos que te fazem sentir saudade, ódio, pena, compaixão, alegria, tristeza. Daqueles que tornam você diferente dos prédios por onde passa. Daqueles que fazem você tornar-se feliz as cinco da tarde, quando espera alguém especial para as sete. Perder-se disso seria completamente prejudicial para o que eu pretendo ser. Médico? Sim, isso também, mas aqui falo de ser humano. Humano de verdade e não só na classificação generalizada que aprendemos a fazer quando chamamos todos os insetos pequenos e voadores de mosquitos. Esse senso que muitos filósofos de internet acreditam estar acabado, mas que na verdade se esconde atrás das rochas, das árvores, das nuvens e das pilastras. Perder a clareza dos meus sentidos seria uma tragédia para a minha intenção de tornar-me um ser humano. Lembro-me que certa vez uma pessoa muito importante para o meu crescimento disse-me que eu precisava urgentemente conter a minha empatia para ser capaz de seguir a medicina. Quando pessoas importantes te falam algo sobre você, você acaba por parar pra pensar, afinal pode ser verdade não é? Abrindo um parenteses aqui, esses momentos em que pessoas importantes me dizem coisas que me angustiam e me fazem pensar é um troço bastante recorrente. Certa vez me disseram que eu precisava moderar um pouco o que eu falava. Basicamente me disseram que eu precisava mentir um pouco mais pra me encaixar melhor nos espaços que eu frequentava. Isso acabou por me tornar mais legal com as pessoas, mas ainda não consigo entender o porquê das pessoas preferirem níveis moderados de sinceridade. Mais recentemente algumas outras pessoas importantes me disseram que eu estava ficando arrogante. Tenho de confessar que essa foi dolorosa. Fui acusado, se é que essa palavra cabe numa situação assim, de fazer coisas que não fiz, mas que pessoas próximas acreditaram que eu fiz, além de outras coisas. Isso me fez pensar um bocado, conversar um bocado com outras pessoas importantes, saber o que elas achavam e pensar mais um bocado. Caí em pensamentos como a velha sinceridade que sempre me trouxe problemas assim e na questão de como as pessoas criam imagens umas das outras. Bem, no fim acabei por não conseguir enxergar a arrogância e tá tudo bem. Acontece. Mas voltando à minha inabilidade para ser médico, eu pensei muito nos acontecimentos da minha vida. Pensei no lugar de onde vim, por onde passei e nas situações que enfrentei e percebi as coisas que mais me faltaram quando eu precisei: compreensão, amor, empatia... E sabe, não são só demandas minhas, mas de boa parte das pessoas que já passaram pela minha vida. Como diz minha namorada: "O mundo precisa de mais compreensão". Então, se eu tenho algo necessário pra fazer as coisas um pouco melhores nesse mundo, porque isso é o meu defeito? Eu realmente não entendo, mas isso deve ter algo haver com aquele papo de inversão de valores que os professores de redação tanto tentam ensinar pros pré-vestibulandos fazerem suas provas e passarem em medicina. Quem sabe, né? Arte. A qualidade de dizer aquilo que precisa ser dito, não aquilo querem que o seja. A qualidade de dar tudo aquilo que se quer menos aquilo que se quer. Como pude por um segundo pensar que livrar-me disto faria de mim alguém melhor? São tempos difíceis... Tempos onde os porquês são muitos e os muitos são poucos ou quase nada. Por fim, poderia citar Bilac, Drummond ou uma duzia de autores cujos escritos passaram pela minha cabeça, mas pra descrever a sensação que tenho agora vou citar uma frase do meu irmão mais novo de doze anos: "Eu gosto de mostrar uma música a alguém e ver que a pessoa passou a escutar essa música também. Ver que alguém passou a sentir um pouco do que eu sinto". Matheus Santos Rodrigues Silva www.matheus-vozes.blogspot.com

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Assassinato da poesia

Matar. Desejo insone que consome a alma de todo ser que um dia se perguntou: Por que? Matar a vida, matar a morte... matar a dor e a própria sorte... Mataram tudo... É guerra! Guerra declarada! Entre a beleza vivente e o crescente nada! Esse vazio de tudo.... esse tudo vazio esse cancioneiro mudo, esse monstro senil... Matar a poesia? Quer maior vilania? Matar a cultura, o sabor, a textura das palavras? Tornar as pessoas mais fracas? Meu deus... o que então nos diferenciará das bestas? Matheus Santos Rodrigues Silva

Você

Sabe, por um pequeno instante logrei pensar em você... Sabe, eu não sabia o que dizer... Quando te vi tão perto, quando te vi tão longe... Sabe, eu tive medo... medo do que falar... medo do que ouvir... Medo em te ver ficar, medo em te ver partir... Sentei sozinho e cercado de lembranças... Sons de risos de crianças... Você! Você me olhou nos olhos e me deu o que era meu. O Amor que sempre teve e que sempre me escondeu... Você veio e me deu, toda sorte de olhares, toda sorte de sorrisos, Toda sorte de falares e eu... eu senti! Cada pedaço de você, cada vontade de você! Você! Olhei em volta e perguntei ao porquê da poesia: por que te amo tanto? Ela é perfeita, ele disse... tua perfeita, ele disse. Pra ti foi feita, ele disse! E então sorri! Olhei em volta e então soube dizer: Eu Te Amo porque Eu nasci pra te ver! Pra te ter! Por você! Matheus Santos Rodrigues Silva

Salva a dor

O que penso? Eu sinto ódio! Ódio intenso! De tudo e de todos! Eu odeio isso aqui! Não suporto te ouvir! Maldita terra de mentes falidas, de doidas varridas e passos marcados... Maldito som de sujeira e miséria, de morte e de dor, dessa eterna espera por um salvador que jamais chegou e jamais virá! É mais que ódio desse povo maldito inculto e fodido! Dessa terra de merda, da falta de educação! Desse sorriso torto e desse aperto de mão que falseia uma sórdida e real intenção! Eu odeio esses homens e essas mulheres que se acham bonitos e dignos de algo... Dignos de pena! A dor que você criou... A dor que você causou... É tua! É crua! É morta! Matheus Santos Rodrigues Silva