sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Rex

Os anjos levantaram numa prece rouca e calada para anunciar a sentença.
Aquele que desafiou as leis dos céus e dos infernos deve pagar!
A divindade outrora partida em duas metades jamais pode se juntar!

A perfeição é procurada por cada alma que vive ou morre neste mundo. Os vivos a procuram em seus atos, os mortos em sua futura “paz”. Os fortes a buscam no desafio, os fracos na justiça divina.
O medo inocente de cada passo reverbera em seus tímpanos. Ele não teme. Ele só guia.
Era tão certo que se errasse... mas ela temia. Duas almas estrangeiras de um mundo patético. O que era aquilo?
A vida transpassou o mero ato de mover-me e respirar. Estava em cada gesto e em cada toque e se reproduzia patologicamente em acessos de descontrole.
Foi impossível resistir ao magnetismo das almas. Assim foi cometido o pecado. O paraíso não pode ser tocado por mãos humanas.
Negada foi a graça de viver. Um simples sobreviver foi consentido por piedade, que é a maior graça neste mundo miserável.
Foram convocadas as criações humanas de maior temor. As horas, os dias, as semanas, os metros e os quilômetros, para uma missão simples: matar.
Da forma mais simples e cruel ou mais complexa e piedosa... não importava. Contanto que matasse.
Puseram uma alma em sua decisão senil de permanência e a outra em tentativas vãs de fuga... tolos...
Dias e quilômetros se passaram com uma aparente morte do paraíso alcançado, mas ele não morreu... Moribundo estúpido que não sabe a hora de deixar o corpo e viver nas planícies do lembrar junto com tantas lembranças... Por que?
Não morrer não fez do moribundo tolo um Augusto, mas apenas um César. Sufoquem-no!
Com mil outros corpos e apenas um; com mil outros fatos vãos e trivialidades; com almofadas e travesseiros, com o que houver.
Calado. Paraíso calado que em vis momentos se livra da mordaça e liberta o som mais triste, diabólico e mortificante. Um grito de horror e desespero que gela as almas e crepita os ossos de todo vivente e todo aquele que se decompõe nas valas imundas do que chamam de civilização. Palavras a tanto esquecidas, por que lembrá-las? Um grito da mais pura imundice da natureza humana: Eu te amo!

Somos a marca da besta e a crença
de que o que sobrevive as farpas deve acabar
pois é só um borrão torpe a se apagar!

Matheus Santos Rodrigues Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário