domingo, 20 de junho de 2010

O lobo

Na noite que cresce, eu sou seu tormento;
Procuro, acho, mato e me alimento;
Na noite que encerra o eterno mistério,
sou seu maior medo, o inimigo mais sério.

Alguém, algum ausente à aurora,
que faz da fome o seu viver;
Arruína a alma arruína a rosa,
arranca o rumo a se esquecer...

Voraz fera, réu em juízo;
Rosnar rançoso, rente ao rosto;
Crime sangrento, crime preciso!
Em céu de sangue... vermelho fosco!

Culpado, eu sou por tirar-lhe a alma!
Por arrancar-lhe o que não tinha...
Por cortar-lhe a carne e matar-lhe a calma;
Por tomar-lhe a vida que agora é minha!

Culpado, eu sou pela minha fome...
Insaciável gula que me domina!
Pela natureza de querer teu sangue,
Querer teu corpo... é minha sina!

Fui feito assim.
Renegado da luz e irmão da lua,
e esse desejo cresce mais em mim...
de cravar meus dentes em tua carne nua...

Sou eu, a fera que te atormenta!
A besta, o monstro que tanto temes!
Sou teu escárnio, a tua afronta!
E diante de meus olhos tu tremes!

Eu sou a dor que já te esquece...
Aquele que deixa aberta a ferida...
Aquele que na névoa se esvaece...
Que tanto quer a morte como quer a vida...

Eu sou a eterna escuridão...
Os olhos da noite, dos quais foges em vão...

Matheus Santos Rodrigues Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário