terça-feira, 29 de junho de 2010

Diário de guerra

Amanhece. Todo o acampamento está calado. Ainda assim, ninguém dorme. Eu sei que ninguém dorme...
O dia foi cheio. Atravessamos o campo sob o fogo inimigo. Eles estavam lá!
Era impossível vê-los, mas estavam!
Logo as sete da manhã, fomos informados da missão. “É suicídio” ele disse, mas ninguém ouviu. Estávamos muito excitados com a oportunidade de encarar o inimigo e quem sabe até de fazer algo grandioso o suficiente pra ganharmos uma medalha! Era emoção demais!
O coronel em pessoa veio até nós. Ele nos animou e nos incentivou. “Vocês lutam com a força de uma nação inteira” ele disse... Uma nação inteira! Imaginei todo o país na expectativa. Nos apoiando, orando por nós! Nos campos, os camponeses se esforçam pra conseguir boas safras para o esforço de guerra. Para nos alimentar! Nas cidades, homens e mulheres se esforçam pra que disponhamos dos melhores equipamentos, da melhor vestimenta... já dispomos do melhor povo, sem dúvida!
Depois do discurso do coronel, tudo ficou claro pra mim: Eu tinha que estar naquele lugar. Era o meu destino!
Nos preparamos. Eu estava na equipe de assalto. Tínhamos que tomar um prédio. Me equipei com um fuzil, duas granas e uma pistola. Era suficiente. Eu não precisava de mais nada. Estávamos indo em direção aos malditos!
O plano era claro: A artilharia iniciaria o ataque a fim de desmembrar as linhas de defesa nas varandas. Depois nós entraríamos. Eram três equipes. Uma de assalto, onde eu estava, uma de cobertura e outra de retaguarda. A equipe de cobertura se posicionou num prédio ao lado, mas só conseguiram deixar um lado do prédio alvo sob sua guarda. Não importava. Qualquer maldito que levantasse um pouco a cabeça pra checar a rua estaria morto. A equipe de assalto entraria cobrindo todos os lados e a medida que fosse subindo, a equipe de retaguarda montaria postos pra proteger a retaguarda. Se tomássemos aquele prédio, faltaria muito pouco pra fábrica...
A artilharia lançou tudo que tinha nas varandas. Não havia sinal de inimigos por lá. Pelo menos não o suficiente dar sinal depois do bombardeio. Começamos.
A equipe de cobertura atirou algumas vezes e nós avançamos. E então algo aconteceu... Enquanto saiamos de nossos postos em direção ao prédio, os tiros dos homens da cobertura pararam. Pensei que eles tinham acabado com os inimigos de frente, mas algo deu errado...
Eu comecei a ouvir tiros. Faltavam uns 800 metros pro prédio quando os primeiros da minha equipe começaram a cair. Pareciam vir de todos os lados! Pareciam fantasmas! Era impossível precisar o locam onde eles estavam. Corremos. Corremos muito! Um dos nossos então gritou: “Recuar! Recuar!” Era inacreditável... tínhamos nascido para aquele momento... Os camponeses, as pessoas da cidade... eles estavam conosco... como era possível?
Era tudo muito assustador. Eu comecei a correr de volta aos nossos postos de defesa. Meus companheiros iam caindo e eu ia abaixando pra pegá-los e mais deles caiam e mais e mais... Nosso tenente já estava aos berros ordenando a retirada, mas eu não sabia no que prestar atenção. Eram muitos sons que se confundiam. As balas do inimigo, os gritos dos meus companheiros, os meus próprios gritos, o choro dos que estavam caídos, o choro dos camponeses... dos homens e mulheres das cidades... Estávamos lutando por eles! Não podíamos recuar! Eu pensei em voltar, mas tive medo. Tive muito medo.
Quando retornamos, ficamos sob fogo cerrado da artilharia inimiga. Estávamos desorganizados e muito reduzidos agora. Como tomar aquele prédio? Ele é vital...
Os homens da cobertura morreram. Eram cinco no total. A minha equipe era constituída por 25 bons homens, contando comigo. Só sobraram eu e mais cinco. Era desanimador. Tínhamos que tomar aquele prédio, mas agora precisávamos de reforços... Era vergonhoso. Não fizemos bem o nosso trabalho...
Por isso eu sei que estão todos acordados. Estão decepcionados consigo mesmos.

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