sábado, 15 de janeiro de 2011

A sombra de uma escolha IX

Cena 03:

*Prisco e Regina se encontram na praça. O mendigo está por perto a observar. Conversam*

(Prisco) – Olá. Como está?
(Regina) – Muito bem eu diria. Respiro poesia! E você? Que me diz?
(Prisco) – Estou bem, eu acho...
(Regina) – Não parece... o que houve?
(Prisco) – Só estou pra baixo...
(Regina) – Pois então cala e me ouve:
(Regina) – Ontem eu pensava em tudo que se passa.
(Regina) – Não pude evitar de me sentir sozinha...
(Regina) – Disse eu pra você, então: me abraça!
(Regina) – E senti que tua presença já era toda minha!
(Regina) – É egoísta, talvez, pensar assim.
(Regina) – Mas é forte demais pra se evitar.
(Regina) – Penso em você perto de mim...
(Regina) – E mais nada pode me afetar...
*Ela sorri docemente, ela sorri docemente...*
(Prisco) – Sinto não partilhar desta poesia...
(Prisco) – Sinto por estar neste tormento...
(Prisco) – Sinto não completar o que dizia...
(Prisco) – Eu sinto... sinto tanto e não enfrento...
(Regina) – Tormento? Não enfrenta? Do que fala?
(Prisco) – Aconteceu algo...
(Regina) – Mas o que?
(Prisco) – Algo que me atormenta...
(Regina) – Mas por que?
(Prisco) – Tinha um sonho e tentei... mandei textos a Lisboa... e agora, enfim, passei...
(Regina) – Mas é notícia boa! Conseguiu! Este é seu sonho!
(Prisco) – É sim...
(Regina) – Então, por que a agonia?
(Prisco) – Exigem-me algo que não queria...
(Regina) – Exigem? Como assim?
(Prisco) – Terei de viajar. Ir a Lisboa, só, pelo mar...
(Prisco) – Apresentar-me aos catedráticos. Prestar homenagem aos velhos homens.
(Regina) – Bem, não é tão dramático...
(Prisco) – Não poderei voltar...
(Regina) – Como assim? Por que não vai?
(Prisco) – Lá vou me formar. As custas destes homens. Depois vou ter de pagar...
(Regina) – Como?
(Prisco) – Lá permanecendo... estudando... desenvolvendo... E o reconhecimento virá...
(Regina) – Mas... mas pode voltar nas férias... pode vir cá as vezes...
(Prisco) – Eu sei que posso... mas não é o que desejo...
(Prisco) – Deixar-te presa aqui por um beijo... que nem sei se vou te dar...
(Regina)- Não! Não diga isso! Não importa!
(Regina) – Eu espero o quanto for! Mesmo que só me encontre morta, estará vivo o meu amor!
(Prisco) – Não diga isso... não merece... És um sonho... não te prendas...
(Regina) – Do que fala? O que quer? Se libertar? É o que pretende?
(Prisco) – Não! Nunca! Eu só não quero que sofra...
(Regina) – Vai a Portugal... quer estar livre não é? Quer curtir a vida! Me deixar, não é?
(Prisco) – Não... Jamais... eu só não quero que sofra...
(Regina) – Acha que eu sou idiota? Eu devo ser... O que eu fiz pra merecer?
(Prisco) – Regina, não... não faça assim... o que eu sinto não tem fim... Eu só não quero que sofra...
(Regina) – Pois então chega. Vá embora. Se decida e me informe.
(Prisco) – Como assim? Vamos falar...
(Regina) – Não posso... precisas decidir... por si só... não mais me ouvir...
(Prisco) – Mas...
(Regina) – Vá...

*Tudo escurece; Ambos somem da cena*

Matheus Santos Rodrigues Silva

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