domingo, 18 de abril de 2010

Sangue imortal

Chaga, marca indecente, em alma inocente talhada
Memória de destruição tão cruel quanto amada
Engana o olvido oh vã lembrança
Oh, frágil resquício da demolida esperança

Quem te disse onde mirar? De onde veio a dica certa?
Teus olhos, de que século conhecem minha alma?
Quem guiou tua mão? Quem guiou tua seta?
Por que me atravessa, passa, e só leva a calma?

De onde tu és? De onde viestes?
Que nome tens tu? Que nome me destes?
Como me desnuda? Como me desperta?
Como me vê preso e só pela metade me liberta?

Questões... questões... porquês... por que?
Tuas perguntas, minhas respostas. Minhas perguntas, sem resposta
Do que chamas o que gostas? Que me dizes? Que me mostra?
Eu vejo, encantado vejo e encantado quero ter

Sem perguntar... sem questionar... vai ser inútil?! Do que falar?
Responda, não te cales. Teu silêncio é um abismo para onde pular
Atraído pelo fogo, tal qual mariposa
Voo até o incêndio que em ti repousa

Doçura alada, concedeu-me tuas asas
Fizestes chama do meu peito em brasa
Queimas-te tudo, demoliu a casa

Trouxera o mundo! Deixara escaras
Feridas profundas num diabético ser
Dor que em ti começa pra fim não ter
Dor augusta, excelentíssimo ópio de tão forte
Beleza em tua lâmina, tristeza em meu corte
Tal lâmina-chama, deixa marcas tão raras

Chaga dourada, que pedi sem saber
Fada encantada, labareda a me arder
Chama apagada na ausência do beijo
Reacende e se apaga, muda o que vejo

É belo e é forte, é vivo e é morte, és tu
É sangue corrente, em veia demente, é tocar-ilusão
É vermelho vibrante, céu galopante em azul
É punho fechado, unido, cerrado em azul



É tudo isso, tudo e mais, azuis fatais e meu querer vão
Ascendendo e apertando, movendo e riscando, tecendo um borrão
Tua alma tão nua, minha mão tão tua, teu não tão meu
O que assim se insinua? Lira plangente de Orfeu...

Fui aos astros levado por tuas asas demolidoras
Beijei as nuvens, pedi conforto aos céus
Pairei nas notas das nove musas encantadoras
Beijei as almas das nove virgens, tirei seus véus

E pelo inferno convocado, desci com as mãos ao céu estendidas
Lá vi todas as mágoas, lá vi todas as vidas
Senti queimar nas lâminas-chamas minha alma a tuas asas presa
E decidi manter-me incandescente a queimar... não importa o que aconteça!

Matheus Santos Rodrigues Silva & Eduardo F. Maskell 

Um comentário:

  1. Ainda vou te ver a pagar com suas letras o que fez de mim sem elas.
    E pensar que tento por tudo acabar com todas as palavras.
    Jogar todas fora.
    E termino sempre em uma jangada.
    Dançando, dançando...

    Ficou um ótimo trabalho a colocação dessas letras assim, uma atrás de outras, algumas em frente e os espaços. Peço a suas mãos que apenas toque. O piano ou o que ele cala. E a seu cúmplice que nenhuma dor permita, sendo esta maior que ele. :]

    Ps: Meet murder my angel.

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