sexta-feira, 2 de abril de 2010

Dias de hoje

Já ouvi muito sobre a sociedade nos nossos tempos. Muito sobre a minha geração. Sobre termos muito conhecimento hoje, mas pouca aplicabilidade para ele.

Eu pessoalmente discordo disso. Acho que temos muito mais possibilidades para adquirir conhecimento, mas isso não significa que o tenhamos. Acho que a aplicabilidade do conhecimento é algo relativo. O conhecimento é vasto, é um conjunto de ferramentas. Aquilo que agora pode não ser aplicável pode o ser daqui a algum tempo.

Também ouço muito dizer que não temos ideologia. Dizem que nossa geração não tem muitos conceitos fundamentados. Não temos um pensamento centrado, coisas do gênero.

Com essa parte eu concordo. Concordo que não tenhamos uma ideologia a qual seguimos. Mas eu não acho isso negativo.

No início, o homem precisava apenas satisfazer as suas necessidades básicas. Comer, beber, dormir e procriar.
Isso era o suficiente.
Na antiguidade o homem foi descobrindo alguns conceitos menos primitivos, como os de estado e sociedade. A partir daí, os anseios humanos foram mudando, mas passaram um bom tempo tendo uma coisa em comum.
Na antiguidade oriental o papel foi do estado teocrático. Na antiguidade ocidental não foi muito diferente. Na verdade, no mundo não foi muito diferente. O estado ditava aos homens aquilo que eles deveriam fazer.
Durante a idade média, esse papel ficou com a igreja para a civilização ocidental, e na oriental... também ficou com a religião...
O tempo foi passando e a função de ditar como a vida dos homens deveria ser foi mudando de mãos. Religiosos, reis, pensadores... Os homens sempre viveram de acordo com um preceito, sempre viveram com alguém lhes dizendo o que fazer.

Estou lendo um livro muito interessante de nome "O fio da navalha". Na narrativa, a personagem Isabel protagoniza algumas situações que chamara a minha atenção. Ela vive um problema com seu noivo, Larry, quer que ele arranje um emprego como qualquer pessoa normal e se dedique a nação, no caso os EUA.
A história se passa durante o processo de ascensão estadunidense e decadência européia pós primeira guerra. Essas passagens mostram, de forma muito clara, o que eu digo sobre os homens sempre serem guiados por algo, nesse caso a euforia nacional.

Nascemos numa época em que a mídia tenta assumir o papel de guiar a humanidade. Ela não tem falhado. Mas tem sofrido uma contestação que outras entidades que serviram de guia para os homens não sofreram.
Nós temos muito acesso a informação, e a informações diferentes. Podemos ter acesso a diversos pontos de vista sobre determinado fato ou idéia em questão de segundos! Todo conhecimento acumulado pela humanidade está ao alcance de nossas mãos. E eu falo daqueles que tem esse alcance no mundo. Todos sabemos que isso não é uma verdade geral, mas de uma parte da humanidade. Mas temos que admitir que essa realidade dita as outras realidades, quase sempre.
Nós não estamos mais presos a uma determinada ideologia ou pensamento. Não estamos mais tendo uma entidade guia, que nos diz o que fazer. Estamos tendo que tomar as nossas próprias decisões.

Fazendo uma daquelas clássicas comparações da humanidade como um ser único, diria que estamos nos tornando adultos... Mas se considerarmos que antes da nossa época, a humanidade era guiada, nossa idéia de adulto é um tanto inválida...

A humanidade passa por um momento complicado. E o mais curioso disso tudo é que o momento psicológico da humanidade se reflete em diversas esferas.
Hoje, temos que escolher. Temos que viver a nossa liberdade, o nosso "livre arbítrio". Na verdade somos forçados a escolher... paradoxal não?

Estamos aprendendo a guiar nossos próprios passos, e aprendemos devagar...
Usando um exemplo bem simples, olhem para diversas igrejas evangélicas que surgiram nos últimos tempos. A diferença delas pra igreja católica é bem simples: A igreja católica pede ao homem que haja de acordo com seus preceitos, enquanto as evangélicas atuais oferecem a ele a salvação, a resolução dos problemas e uma guia.

Sabem guia? Coleira. Essas entidades dizem as pessoas o que fazer, como fazer e quando fazer. Por isso atraem a tantos hoje.

Depois da crise financeira, vemos o manto que os EUA lançaram sobre o mundo ser recolhido. Por um bom tempo foi esse país que ditou as regras no mundo, mas hoje o vemos com dificuldades pra se manter e numa crise interna de dar pena. Qual a consequência disso? O mundo tem mais liberdade para se expressar.
Muitas nações estão preenchendo os vácuos de poder deixados pelos EUA. Vide Rússia no oriente, Irã até mesmo Israel no oriente médio, o afastamento japonês dos EUA e sua aproximação com a China, a própria China e até mesmo o Brasil!(Vide viagem de Lula à Palestina).
A União européia passa por sua primeira grande crise, e sua fragilidade se revela. Até mesmo a África tem tido mais liberdade para agir, fora da influência dos grandes. Mas a questão é: O que o mundo está fazendo com essa nova conjuntura? O que o mundo está fazendo agora que não tem mais uma nação hegemônica ditando o que deve fazer?

O dilema de cada um de nós é o dilema do mundo. Nossa busca por respostas e por nosso próprio caminho é a mesma do mundo. Não estamos mais presos a nada, vivemos uma época de transição. É a nossa chance de acertar ou de falhar novamente.

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