domingo, 18 de julho de 2010

Diário de guerra III

Pode ser que essas sejam os últimos escritos da minha vida. A situação aqui não dá segurança alguma. Tudo pode acontecer a qualquer momento.
Anteontem, chegamos à cidade. Entramos logo após os tanques do inimigo. As pessoas estavam assistindo horrorizadas àquele espetáculo. Éramos prisioneiros de guerra. Éramos troféis de combate.
Eu olhei ao redor, pra ver se encontrava um rosto conhecido, e achei Sofia! Foi um momento rápido de felicidade, mas logo em seguida eu lembrei de Ângelo... estava morto...
Não podíamos falar com as pessoas da cidade. Os soldados que nos cercavam não permitiam. Estávamos sendo levados até uma área cercada que um dia foi uma fábrica. Ficaríamos confinados lá até segunda ordem.
Chegamos e nos ajeitamos. Era degradante ver todo um batalhão de homens de bem naquela situação. Fomos humilhados.
Cada um em seu canto e logo começou a conspiração. Começamos a tramar uma saída dali, uma fuga, uma insurreição! Precisávamos fazer algo, afinal ainda éramos soldados e defensores da pátria.
Duas noites depois e estávamos prontos. O plano era simples: Durante a troca de turno dos soldados noturnos, iríamos invadir a sala de armas. Apenas dois de nós poderiam fazer isso. Mais que isso colocaria tudo a perder. O importante era sair de fininho. Os guardas nunca esperariam que duas pessoas tentassem combater todo o seu batalhão. Escolhemos dois entre nós, os mais capazes e mais corajosos. Eles entrariam na sala de armas e eliminariam um total de 15 soldados que estariam no caminho entre o resto de nós e as armas. Logo depois, o resto de nós avançaria e tomaria posse de outras armas. Mataríamos os outros inimigos e tomaríamos o controle da antiga fábrica. A partir dali, seria mais fácil organizar a libertação da cidade.
Na sexta noite de cárcere, pusemos o plano em ação. Os guardas estavam trocando de turno e nossos homens avançaram. Entraram na sala de armas e saíram atirando.A confusão começou. Ouvimos os barulhos e balas e gritos e nos preparamos. Alguns minutos depois do início da confusão, surgiram 3 soldados inimigos, armados e prontos pra atirar. Algo não estava certo. Dei um grito de avançar e todos nós avançamos contra os malditos. Eles atiraram e mataram alguns, mas conseguimos segurá-los e acabar com eles. Algo estava errado. Saímos do cárcere com 3 armas e duas granadas. Vimos os nossos dois homens no chão. Eles não conseguiram... Os soldados do inimigo já estavam a nossa frente e tivemos que nos atirar contra eles. Eles tinham mais armas e nós mais soldados. Foram muitos tiros e muitos gritos. A todo instante caiam homens ao meu lado e eu não sabia se eram dos meus ou do inimigo. Estava tudo muito confuso, até que os tiros cessaram. Tomamos o controle da fábrica, eu pensei. Era verdade. Havia muito sangue. Havia muitos mortos, mas a fábrica era nossa! Armamos o resto de nós e enviamos alguns mensageiros pela cidade, para informar a todos do ocorrido. Em pouco tempo, estava criada uma rede de comunicação por toda cidade, que conspirava contra o inimigo.

Ela veio até nós. Sofia. Procurava por Ângelo. Ela me reconheceu e conversamos. Eu disse a ela que Ângelo estava morto e ela me disse que Vânia estava doente. Não pude aceitar o motivo... Coronel Gluck. Ele comandava as operações na cidade. Eles criaram um comitê de discussão e convocaram um representante de cada bairro pra participar. Vânia foi... Ela disse que não haveria aceitação por parte da população e tentou matá-lo. O tiro acertou o braço daquele desgraçado... Ela foi presa e Gluck ordenou que ela fosse lançada aos homens. Ela foi lançada a lobos... Eles abusaram dela... Vários... Aqueles soldados imundos! Um após outro... Minha Vânia... Minha bela Vânia...
Sofia chorou muito e eu lhe entreguei a poesia de Ângelo. Ela leu e chorou mais ainda. Em soluços ela disse: "Eu te perdôo... eu te perdôo". Ela não quis saber com quem Ãngelo a traiu, então não precisei mentir em nada. A morte causa efeitos estranhos.

Preciso ir até Vânia. Preciso falar com ela. E preciso, principalmente, matar o Coronel Gluck. Se eu precisar morrer nesta guerra, eu morrerei sobre o cadáver dele!

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