domingo, 23 de maio de 2010

Pessimismo consentido

É chegada a hora do fim das palavras.
O poeta de antes abdica das armas
e tem por destino a morte.
Rápida. Certa. Num corte.

As palavras que antes entendiam se mancham.
As cores que antes vertiam se apagam.
Os versos que antes ouviam já cansam.
Os lábios que antes sorriam se calam.

Culpa. Medo. Desconfiança.
Traços sutis e acabados.
Restou-se apenas a esperança,
E certa dor por outro lado.

As pessoas esperam por golpes;
e assim levantam as armaduras,
pegam as armas e saem a galopes,
pra destilar suas amarguras.

Na dor Augusta de um sentimento,
dão preferência ao constante,
inocente é o assassino,
culpado é o amante.

Das vilezas humanas, a pior é aceita.
A menor não.
Pois é salvo o genocida
e morto o ladrão.

O que se glorifica é a indiferença;
a atenção é malograda.
Cortas a carne de quem te pensa;
elevas a alma de quem te apaga.

E assim seguem todos na demência,
de acreditar numa vida desgraçada.
A alma tenta escapar-se da carência,
estando toda ela já tomada.

Tentam viver no que acreditam.
Do orgulho imbecil de um pensamento.
E quando as palavras por fim se findam,
esquecem do todo. Lembram o momento.

Melhor é o medíocre que o poeta.
Pois o primeiro tem por constante o seu ser.
Que te fere sempre, mas já o espera.
O segundo, se o faz, deixas morrer.

Acostumaram-se tanto ao maltratar,
que se oferecem carinho não conseguem conceber;
esqueceu-se o mundo como amar;
condenado está a perecer.

Se o costume é dor,
o amor é pecado.
O verdadeiro infrator
é então o apaixonado.

Por fim pergunto: A quem agradeço?
Pouparam-me da morte no berço.
Para matar-me consciente.
De estar eu, num mundo demente!

 Matheus Santos Rodrigues Silva

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