segunda-feira, 3 de maio de 2010

Maresia

O mar se agitou, levantem! Despertem!
O mar se agitou, levantem! Despertem!
As ondas alcançam e encharcam as velas!
As ondas alcançam e encharcam as velas!

Tempestade sombria, temor inesperado,
fim do menor agrado, fim da menor alegria...

As ondas e o mar! O trovão e o vento!
O mastro a passar e o fim, tenro e lento...

Perdido o leme, as velas... os remos despedaçados...
Só restam as dores e náuseas e feridas e  desagrados...

Estou no mar...
Violento, cruel e vil mar!
Estou no mar...
Silêncio!

A turba de amotinados se condensa,
atmosfera fria, turva e tensa;
Corpos navegando o auto mar,
vivos, fatigados, afogados... que mais há?

Perdida toda a direção, bússola já em águas,
nunc'antes navegadas!

Perdida toda a direção, marinheiros achados,
já perdida a razão...

Já não pensam, já não agem... pobres moribundos...
Condenados pela morte a habitar mares profundos...

Nauseabunda chaga que me exaspera,
escorbuto tardio em vão curado,
o sal do mar já nos espera,
pra ferir-nos a noite o desagrado.

Sobre e sob, nada mais há,
apenas o apelo de um afogado,
pois que o que não começa não pode acabar,
e se entrega últim'alma de um condenado.

Vórtice abre! Engole o navio!
Já não resta mais nada! Só água e vazio!

Leva-me ao centro, oh tempestade que grita!
O silêncio me acalma... o silêncio me irrita!

Eu estou no mar...
Sob as bençãos de Apolo.
Eu estou no mar...
Vagando em seu colo...
Eu estou no mar...
Sobre as cinzas de heróis.
Eu estou no mar...
Eu e ele... a sós...

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