segunda-feira, 9 de julho de 2012

Não posso parar

Há algum tempo atrás eu parei de escrever. Algumas pessoas me perguntaram o porquê e eu fiquei procurando na minha mente uma boa desculpa. Seria a faculdade? O excesso de atividades? Estava sem tempo? Eu usei essas desculpas pra justificar o adormecimento da minha pena, mas no fim não era nada disso. Eu tinha tempo livre o bastante pra escrever. As coisas não estavam tão difíceis assim. Eu até fui bastante displicente nesses últimos meses e ainda assim não enfrentei grandes dificuldades. O problema não era tempo ou cansaço. Então o que era? Continuei meditando sobre isso e pensei: Será que estou ficando velho? Estou crescendo e percebendo que tudo aquilo não passava de uma fase? Que estava encarando o mundo como ele é? Por um momento eu cheguei a acreditar que fosse isso, mas foi por um momento muito curto. Pensei, pensei... é complicado analisar a si, não é? Não pra mim. Nunca foi. Então o que? Obtive minhas respostas entrando em contato com a arte que parecia se esvair de mim. Ela não se foi. Ela continua aqui. Ela é uma parte indissociável do meu ser. É minha assinatura, ou melhor, minha marca a ferro quente, minha tatuagem. É essa "marca" que me fez gostar de mim mesmo ao passo que também odiar a mim mesmo naqueles tempos inglórios da nossa formação mental. Sabe, o mundo pode ser bastante chato e sem graça. Basta você perder a clareza dos seus sentidos. Não falo aqui da visão, audição, olfato, tato e palar. Falo daqueles sentidos que te fazem sentir saudade, ódio, pena, compaixão, alegria, tristeza. Daqueles que tornam você diferente dos prédios por onde passa. Daqueles que fazem você tornar-se feliz as cinco da tarde, quando espera alguém especial para as sete. Perder-se disso seria completamente prejudicial para o que eu pretendo ser. Médico? Sim, isso também, mas aqui falo de ser humano. Humano de verdade e não só na classificação generalizada que aprendemos a fazer quando chamamos todos os insetos pequenos e voadores de mosquitos. Esse senso que muitos filósofos de internet acreditam estar acabado, mas que na verdade se esconde atrás das rochas, das árvores, das nuvens e das pilastras. Perder a clareza dos meus sentidos seria uma tragédia para a minha intenção de tornar-me um ser humano. Lembro-me que certa vez uma pessoa muito importante para o meu crescimento disse-me que eu precisava urgentemente conter a minha empatia para ser capaz de seguir a medicina. Quando pessoas importantes te falam algo sobre você, você acaba por parar pra pensar, afinal pode ser verdade não é? Abrindo um parenteses aqui, esses momentos em que pessoas importantes me dizem coisas que me angustiam e me fazem pensar é um troço bastante recorrente. Certa vez me disseram que eu precisava moderar um pouco o que eu falava. Basicamente me disseram que eu precisava mentir um pouco mais pra me encaixar melhor nos espaços que eu frequentava. Isso acabou por me tornar mais legal com as pessoas, mas ainda não consigo entender o porquê das pessoas preferirem níveis moderados de sinceridade. Mais recentemente algumas outras pessoas importantes me disseram que eu estava ficando arrogante. Tenho de confessar que essa foi dolorosa. Fui acusado, se é que essa palavra cabe numa situação assim, de fazer coisas que não fiz, mas que pessoas próximas acreditaram que eu fiz, além de outras coisas. Isso me fez pensar um bocado, conversar um bocado com outras pessoas importantes, saber o que elas achavam e pensar mais um bocado. Caí em pensamentos como a velha sinceridade que sempre me trouxe problemas assim e na questão de como as pessoas criam imagens umas das outras. Bem, no fim acabei por não conseguir enxergar a arrogância e tá tudo bem. Acontece. Mas voltando à minha inabilidade para ser médico, eu pensei muito nos acontecimentos da minha vida. Pensei no lugar de onde vim, por onde passei e nas situações que enfrentei e percebi as coisas que mais me faltaram quando eu precisei: compreensão, amor, empatia... E sabe, não são só demandas minhas, mas de boa parte das pessoas que já passaram pela minha vida. Como diz minha namorada: "O mundo precisa de mais compreensão". Então, se eu tenho algo necessário pra fazer as coisas um pouco melhores nesse mundo, porque isso é o meu defeito? Eu realmente não entendo, mas isso deve ter algo haver com aquele papo de inversão de valores que os professores de redação tanto tentam ensinar pros pré-vestibulandos fazerem suas provas e passarem em medicina. Quem sabe, né? Arte. A qualidade de dizer aquilo que precisa ser dito, não aquilo querem que o seja. A qualidade de dar tudo aquilo que se quer menos aquilo que se quer. Como pude por um segundo pensar que livrar-me disto faria de mim alguém melhor? São tempos difíceis... Tempos onde os porquês são muitos e os muitos são poucos ou quase nada. Por fim, poderia citar Bilac, Drummond ou uma duzia de autores cujos escritos passaram pela minha cabeça, mas pra descrever a sensação que tenho agora vou citar uma frase do meu irmão mais novo de doze anos: "Eu gosto de mostrar uma música a alguém e ver que a pessoa passou a escutar essa música também. Ver que alguém passou a sentir um pouco do que eu sinto". Matheus Santos Rodrigues Silva www.matheus-vozes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário