segunda-feira, 9 de julho de 2012

Mentiras

"Uma mentira contada várias vezes torna-se verdade". Essa frase foi proferida na década de trinta pelo então ministro da propaganda do regime nazista, Josef Goebbels. De lá pra cá podemos observar diversos exemplos da veracidade de sua afirmação. Um dos melhores exemplos ocorreu no fim da segunda guerra mundial, quando sob julgamento no tribunal de Nuremberg, o ex-Marechal do Reich, Hermann Goering, proferiu as seguintes palavras a um juiz americano: "Assim como fizemos em meu país com os judeus, vocês fizeram com os japoneses. Criaram campos de concentração para os americanos descendentes de japoneses tal qual fizemos com os alemãs de origem judia. E não foi por motivo de guerra! Não foi, pois vocês não fizeram o mesmo com os descendentes de alemãs e italianos, contra os quais também estavam em guerra! A vida de um japonês para vocês é o mesmo que a de um judeu para nós e o único motivo para eu estar sendo julgado aqui e não você, é que perdemos a guerra!" E assim fiou-se a história da nação que lutou pela liberdade. A mesma nação que exterminou sumariamente mais de duzentos mil japoneses no teste das bombas atômicas e que não dava aos seus cidadãos de cor negra o direito de ocupar cargos políticos ou de oficiais nas forças armadas. A mesma que proibia seus cidadãos negros de portarem armas, quando dava esse direito aos brancos. Mas então, porque falar sobre isso tudo? Trouxe algumas passagens da história passada para falar da nossa história presente. Eu, felizmente, não tenho o costume de assistir TV, mas acabei passando pela sala enquanto minha mãe a assistia durante a tarde e me deparei com mais propagandas do governo do estado. Falava sobre a atual greve dos professores da rede estadual. Dizia basicamente que eles não querem voltar ao trabalho tendo recebido 22,22% de aumento e tendo 73% de ganho real no salário desde o início da gestão Wagner. Como bem condicionado fui por meu pai, não confiei no que vi e fui averiguar se aquilo procedia. Encontrei algumas outras propagandas do governo do estado no Youtube e me deparei com uma que falava do eficiente combate a seca que o governo estava fazendo. Foi engraçado ver tal alarde com isso, sabendo que esse ano o interior da Bahia sofreu uma seca terrível sem que o governador movesse uma palha para ajudar. Numa outra propaganda o insuportavelmente risonho narrador falava da construção da arena fonte nova e da copa do mundo que vinha pra Salvador e então falava que tal feito traria grande crescimento e desenvolvimento para todo o estado. Parei por um instante e me perguntei: Como é que uma copa do mundo em Salvador vai trazer algum crescimento para Vitória da Conquista? Barreiras? Cipó? Peço perdão pela ignorância, senhor governador, mas o senhor poderia me explicar essa viagem? Bem, voltando para a greve, descobri que os professores estão exigindo o cumprimento de um acordo feito entre o sindicato e o governo do estado, que determinava um reajuste para a classe que acompanhasse o reajuste do piso nacional dos professores, que foi de 22,22%. Traduzindo: Por lei, o reajuste do piso nacional deve se repetir em todos os estados, mas os professores tiveram de fazer um acordo por esse reajuste para que ele se cumprisse e o governo do estado ainda falta conceder 4,22%, pois concedeu 6,5% e depois 11,5%. Olhando por um outro lado, o governo do estado ofereceu um reajuste de 3% até outubro desse ano e de 4% até abril do próximo ano, dando até 25% de reajuste no fim, no formato de progressão de carreira, mediante realização de um curso a distância. Os professores analisaram a proposta e a recusaram. Eu consigo entender o porquê, afinal a lei atual determina o reajuste e se eles aceitassem a proposta estariam revogando essa lei. Eles não estão pedindo nada demais. Considerando que o governo Wagner gasta uma violentíssima quantia de seu orçamento em propaganda e que atualmente assinou um contrato milionário sem licitação com a empresa de um famoso professor baiano, é até um crime do governo dizer que não pode arcar com os gastos dos novos salários. Parei pra pensar comigo mesmo e cheguei a me voltar para a opinião de que diante da precariedade do nosso sistema educacional e diante do prejuízo causado pelo governador aos alunos, os professores poderiam aceitar a proposta que os concederia o reajuste no fim das contas, mas aí me lembrei da frase de uma americana no filme Sicko de Michael Moore, explicando o porquê de, na França, as coisas serem melhores para o povo. Ela disse o seguinte: "Aqui o governo tem medo do povo. Eles tem medo de protestos, greves, movimentações urbanas. Aqui o povo não tem medo e sai as ruas para defender os seus direitos". Quando penso num país no qual queria morar me vem a França à cabeça. Sendo assim, acredito que devíamos imitar o comportamento francês e lutar pelos nossos direitos. Imitamos tantas coisas ruins do estrangeiro, porque não imitar as coisas boas? Sendo assim, que os professores continuem em greve até ser cumprido o que determina a lei e o acordo firmado em novembro passado pelo governador. Que as coisas sejam feitas direito ou que não sejam, mas não mais com esse jeitinho brasileiro que tanto nos impede de amadurecer como nação. Que os professores não sejam caridosos, pois aceitar menos do que aquilo que se tem direito é caridade. E caridade é um valor danoso a uma sociedade que intenciona ser mais igual. Nós ainda não nos identificamos como nação. Ainda não nos respeitamos como cidadãos, pois até o presente momento expressamos as duas grandes qualidades de um povo dominado: Temos medo e não temos educação. E assim segue uma grande mentira na qual nosso povo dominado ainda acredita, mas que infelizmente não segue o enunciado de Goebbels: "Tenham fé e aguardem, o Brasil irá melhorar!" Matheus Santos Rodrigues Silva

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